Essa é a pergunto que eu mais tenho escutado desde que cheguei em casa no dia 22 de agosto. A resposta, que talvez seja óbvia para alguns mas não tão obvia para outros, com certeza não deixaria de ser claro que valeu!!!
Já que é assim, nada mais justo do que falar um pouco sobre isso, principalmente porque muita gente que também estuda medicina no Brasil sempre veio falar comigo sobre participar ou não do CsF e, obviamente, essas conversas se tornaram bem mais frequentes agora que eu já concluí o intercâmbio. Obviamente, tudo que eu falo aqui é a minha opinião sobre a minha experiência e talvez sirva de alguma coisa para a galera da medicina que sempre vem conversar comigo sobre isso cheio de dúvidas na cabeça. Aliás, tem um post sobre essa questão da medicina e o CsF logo do início de tudo e você pode conferir aqui.
No geral eu posso dizer que esse intercâmbio teve muitos pontos positivos e, como tudo nessa vida, alguns pontos que poderiam ter sido melhores. Eu digo 'ter sido melhor' porque na minha vida eu tento sempre ver que nada acontece por acaso e tudo tem uma razão de ser, o que sempre me faz aprender e crescer como pessoa. Ou seja, mesmo as coisas que não me agradam tanto me fazem pensar que eu posso aprender algo com elas (principalmente aprender a lidar com elas) e no fim de tudo, vale a pena a experiência. Pode parecer besteira para alguns, mas para mim faz a vida ser mais leve e é uma questão de personalidade e de espiritualidade e faz todo o sentido para mim.
Eu virei a página da língua inglesa na minha vida. Eu também já falei sobre isso em alguns outros posts, mas não me canso de pensar o quanto isso valeu a pena para mim. Valeu a pena por causa do PSE. Valeu a pena porque eu tive aulas, estudei, escrevi trabalhos, apresentei trabalhos, fiz provas e tive relacionamentos profissionais (além dos pessoais) em inglês na área científica. Eu me sinto muito feliz por pegar qualquer texto e qualquer livro e simplesmente ler na mesma velocidade que eu leio em português (claro que eu busco por palavras que não conheço, pois assim continuo aprendendo e isso é normal em qualquer segunda língua). Isso tudo sem contar todas as coisas que eu tive que superar, lidar e fazer sozinha em inglês. Valeu a pena porque eu sempre fui bastante independente, resolvida e decidida e não houve barreira linguística alguma que me fizesse deixar de ser como eu sou, então eu me considero bastante realizada neste sentido. Desde o primeiro atendente de aeroporto que falava em inglês com sotaque alemão que foi minha primeira dificuldade de comunicação até eu poder fazer qualquer coisa em qualquer lugar sem sentir dificuldade alguma com a língua, muita coisa mudou e foi muito positivo para mim!
Eu aprendi muita coisa nesses exatos um ano e dois meses que estive morando fora de casa. Agreguei bastante à minha bagagem acadêmica, tanto pelas matérias cursadas durante o ano letivo, com coisas que eu já havia estudado e com coisas novas, quanto pela experiência do summer project. Eu não vou me repetir e você pode conferir sobre essas duas experiências, explicadinhas com bastante detalhes, nos links com posts recentes em que já falei sobre elas. :)
É obvio que teria sido muito mais proveitoso se eu tivesse cursado matérias exclusivas do ciclo clínico da faculdade de medicina na Uni of Dundee (momento pelo qual estou passando aqui no meu quarto ano na UERJ) e esse é um ponto que poderia ter feito da experiência algo mais interessante academicamente. Mas eu também já conversei aqui sobre a burocracia que envolve estar em uma faculdade de medicina no exterior (da mesma forma acontece com estudantes que vem estudar no Brasil). Confesso que invejei um pouquinho o pessoal que estudou medicina em Budapeste pelo CsF, mas isso não fez da minha experiência nem um pouco menor ou pior, pelo menos para mim. Considero que eu fiz o que pude fazer e tentei tirar o melhor disso tudo!
Detalhe: não sei ao certo a quantas anda isso, mas aqueles países que aceitavam estudantes de medicina estudando nas faculdades de medicina deles não farão mais isso a partir do próximo edital. Parece que o último que aceitou isso foi o da galera que partiu agora em agosto de 2014. Isso foi o que meus colegas me disseram e eu não tenho certeza, mas para quem só se interessaria nessas condições, vale a pena dar uma checada. :)
Claro que como parte de um intercâmbio, foi muito bom ter tido a oportunidade de conhecer lugares diferentes, alguns que eu sempre quis estar, outros que eu nem imaginava que conheceria tão cedo. Isso porque conhecer um lugar novo significa também conhecer um pouco da história do povo, da cultura e da forma de ver o mundo das pessoas que estão lá e eu acho que perceber isso e tirar um pouquinho de cada canto para minha vida me fez crescer bastante. Eu tive a oportunidade de viajar duas vezes nas férias de um mês durante o inverno (6 dias na Irlanda e outros 12 dias na Inglaterra), uma vez na Easter break (um recesso de Páscoa bem maior do que estamos acostumados, o meu foi de um 40 dias, do qual eu usei 21 para conhecer Amsterdam, Berlim, Roma e Barcelona) e uma vez no verão (foram duas semanas de recesso do meu summer project, que durou 3 meses, usadas para conhecer alguns lugares na Polônia, outros na Croácia, Praga e Budapeste), fora todos os lugares que fui conhecendo na Escócia ao longo do ano, porque tudo era relativamente perto (para quem tem como referência o Brasil, qualquer coisa é muito perto!) e um fim de semana sempre foi bastante tempo. Administrando bem o dinheiro que recebemos e usando um pouco dos recessos que temos dá para conhecer bastante coisa e aprender muito com isso tudo! :)
Eu conheci muita gente diferente, de vários lugares diferentes e foi muito bom morar em Dundee nesse sentido. Isso porque a Uni of Dundee recebe muitos estudantes internacionais, então conheci gente de tudo quanto é canto! O tempo que estive no laboratório então foi muito sensacional nesse sentido! Além da faculdade, tive a oportunidade de conhecer pessoas em atividades diversas, desde a academia até as viagens que fiz, e esses contatos agregaram muita coisa boa em minha vida. Todas essas pessoas e também meus momentos de independência/solidão (não no sentido negativo da palavra, mas no sentido de "agora é só com você") me ensinaram muito, muito mesmo, sobre a vida, principalmente as minhas flatmates. Porque nada como dividir o mesmo espaço para aprender a dividir o mesmo espaço e [tentar] ser mais agradável e fazer desse espaço mais harmonioso. Meninas, vocês foram essenciais para mim!
Eu também aprendi com todas essas pessoas (desde a pessoa de um hostel aleatório que me contou a história de vida dela até pessoas que eu via todos os dias) a ver muitas coisas por ângulos diferentes, eu mudei hábitos, eu aprendi a experimentar mais e a viver mais com todas elas. Eu também aprendi muito a dividir, a ser mais calma e paciente, a ser mais solidária e aceitar a solidariedade gratuita e fofa dos outros (acredite, a vida parece mais simples agora), a ouvir mais (apesar de já ouvir bastate... acho que vou virar um orelhão daqui a pouco). Eu também consegui, não sei como mas consegui, a relaxar e ser menos paranóica, apesar de continuar organizada. Isso sempre foi uma coisa que me deixava doente da vida, porque eu sempre tive dificuldade de mudar o modo como eu faço as coisas no meio do caminho e, se eu começava de um jeito parecia que eu tinha que terminar daquele jeito. Isso sempre foi muito ruim, porque eu me via em situações que parecia que não daria para voltar atrás e hoje em dia eu vejo que as coisas não precisam ser assim.
Além disso tudo, esse tempo fora me fez ver que algumas coisas são mais importantes que outras nessa vida. Eu aprendi, por exemplo, a não dar mais tanto valor às coisas materiais porque, na boa, não interessa a ninguém mais além de mim mesma se eu vou usar a mesma roupa ou sapato duzentas vezes se eu to feliz assim, não me interessa mais a opinião alheia nesse sentido. Além disso, reforcei muito para mim mesma a idéia de não julgar vida alheia, porque eu não quero que julguem a minha.
Por fim, esse tempo fora me fez dar muito mais valor às pessoas que eu amo e que me amam, que gostam de mim do jeito que eu sou sem tirar nem por, em particular a minha família e o meu namorado, mas também os meus amigos. Ficar longe de todos eles, por pouco tempo ou por muito tempo, dependendo de quem eu esteja falando, me fez valorizar mais ainda o amor deles que eles tem por mim e que eu tenho por eles. Vocês são meu tudo e o que importa de verdade!
Então valeu muito a pena, pessoal!